domingo, 10 de julho de 2011

169. Importante

E vou descobrindo, não sem surpresa, que da mesma forma que você me ajudou a ter coragem pra andar de bicicleta sozinha eu também te ajudo. E quando você está ali frágil e diz que não é nada, mas é tudo, eu também te seguro. Eu também te apoio. E gente, como isso é estranho.

Você vai rir e eu vou me odiar por mais uma vez encaixar naquele arquétipo. Eu nunca pensei no que poderiam aprender de mim, só via aquilo que me aportavam. Não por egoísmo, mas porque nunca pensei que pudesse fazer alguma diferença, sabe? Mesmo as pessoas mais queridas, quando desabafavam e eu as consolava, aconselhava e ralhava, pensava que o que eu disse poderia ter sido dito por qualquer pessoa. Por suas mães. Por outros amigos. Sabe? Não era esse o pensamento explícito que eu tinha, mas era o que ficava sob todas as camadas, como um volume debaixo da colcha da cama: gente mais importante que eu. Gente mais sábia, mais paciente e menos irritante. Gente melhor.

Eu nunca me senti digna dos meus amigos. Nunca. Levei uma vida pra aceitar que gostavam de mim, e uma vida e meia para aceitar o fato de que não precisava fazer grande coisa para que gostassem. Gostam de mim, pronto, todo mundo fica feliz. E vem o complexo de mascote. Não me importava o que faziam, pra onde iam, se eu serviria para algo: onde as pessoas que eu gostava iam, eu ia junto, para estar perto. Porque sofria tanto ao pensar que não prestava pra nada, que não os merecia, que se a minha simples existência as deixava satisfeitas, então eu não iria pensar em nada e apenas existir pra elas. E ganhar seus afagos.

Mas, demônios, eu sei que você me escuta. Eu sei que você se importa. Pela primeira vez eu sinto como se realmente fizesse a diferença na vida de alguém; como se de fato, ativamente, eu fizesse parte. Não como um bichinho fofo que nasceu com o propósito de ser fofo. Como se alguém viesse me pedir pra segurar a bicicleta enquanto aprende a andar. Eu, logo eu? Eu não sei nada, se bobear vou tropeçar e caímos as duas juntas na lama. Mas você me pede mesmo assim. Deixa eu segurar no guidão e empurrar...

E quando te digo o que acho, você me faz caso. E mesmo quando discordamos, você me leva a sério. Você realmente me leva a sério. E... começo a pensar que talvez as pessoas também se importem. Talvez eu faça alguma diferença na vida delas também. Porque... acho que faço na sua.

(Parece. Eu não sei. Espero que sim. Espero não estar enganada.)

E vou descobrindo cada vez mais, e não sem surpresa, como sou grata por ter te conhecido. Achava que não me impressionaria mais. Mas obrigada por me fazer importante. Obrigada.

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