sábado, 30 de abril de 2011

155. Sol II

O post anterior não deveria ter sido assim, mas acabou sendo. Espero que ela nunca veja - mas não vou apagar.

O que eu ia falar é que adoro essa expressão: "você é um sol".


E ultimamente, com a estação das chuvas chegando e deixando os aposentos escuros, nunca me senti mais iluminada. Porque estou cercada, cercada de sóis.

154. Sol

Uma vez ela chegou e disse: "você é um sol".

Não é algo que se ouve na nossa língua - é comum na língua dela. Eu lhe havia dado um presente e estava morrendo de vergonha e medo de que não houvesse gostado, ou que estivesse dizendo que gostou para ser educada. A gente não se conhecia bem naquela época, e não sei o quê me fez esquecer da maioria das cautelas sociais que tenho e dar-lhe um presente grande. Um presente grande demais pra uma pessoa que eu conhecia havia poucos meses.

Dei um passo no escuro, e tinha medo de cair. Ou melhor, de que ela me empurrasse na escuridão e eu caísse. De que um ato de afeto genuíno, de que um pedido de amizade destrambelhado, se tornasse apenas uma idiotice que fiz por amor. Mais uma idiotice que fiz por amor e que nunca mais havia encontrado motivo para repetir em muito tempo.

Porque, claro - todo mundo tem medo no início. Eu não queria ter medo. Mas ela talvez tivesse. E nosso mistério é o outro, e até hoje eu ando apreensiva - será que deveria ter feito isso? Será que ele vai gostar disso? Eu sou assim comigo, mas não o serei com você - com medo de perder o pouco que tenho. Mais que corpo, coração. E eu tateava no escuro, como sempre, porque levantar as máscaras é sempre muito, muito arriscado.

Mas ela disse que eu era um sol. E como um sol eu brilhei. E o caminho iluminado já não me assustava tanto assim. Não vi final, não vi sequer o próximo passo, mas pelo menos percebi que ele segue - adiante, adiante, até o infinito, seja lá onde isso seja.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

153. Roxo

Um dia roxo, abafado, brilhante e feio. Um dia roxo, asfixiante.

terça-feira, 19 de abril de 2011

152. Desta vez

Sabe quando você está muito triste com alguém e a pessoa sabe, mas acha que está certa e que você está borocoxô por estar se sentindo culpada e por isso age normalmente com você, até com mais doçura, no maior tom "eu te perdôo"?

Mas eu não quero ser perdoada. Posso ter feito merda, mas não estou errada. Não estou.

Aí o animal emburrado sou eu. E o pior, começo a me sentir culpada mesmo.



Não desta vez. Não tanto assim.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

151. Gostar de

Oooi, Culpa. Está um pouco atrasada, não é? Ainda bem que hoje veio pequena. Até que enfim estou aprendendo a gostar da puta que sou, e que sempre serei.

150. Tremendo

Vamos fazer assim, ó: eu te ignoro e você me ignora. A gente tem feito isso inadvertidamente há algum tempo, vamos continuar assim.

Porque acho que você percebeu que não falo mais com você. E não falo mais com você porque abrir o meu coração com você é pedir pra que você jogue tudo na minha cara depois. É pedir pra que você não me ajude. Você não me consola mais. E está tão desatualizada da minha vida que continua achando que dizer "é por isso que você não tem amigos" me atinge. Agora tenho amigos, e eles parecem procurar me entender mais do que você.

Diz que sou muito dura, que me acho perfeita, que não ouço os problemas de ninguém. Vá se olhar no espelho. Ninguém discute com você não porque você sempre tem razão, mas porque nunca se rende. É mais fácil dizer "tá bom, você venceu".

Agora, falo alguma coisa? Não falo. Não posso. Fazer o quê, te amo.

Não consigo mais digitar. Minhas mãos estão tremendo.

149. Espera

E esse tempo que não passa, hein? O que fazer quando você não está onde seu corpo se encontra?

Sueña que sueña la estrella
siempre en estado de espera;

terça-feira, 12 de abril de 2011

148. Barato

http://fleamarketadvice.tumblr.com/

Como um mercado de pulgas: barato e de segunda mão.

domingo, 10 de abril de 2011

147. Sem rosto

Mas a maldade não está apenas nas pessoas. A maldade está em todo lugar. A maldade está nos sistemas, nos cargos, nas redes que se interrompem justamente para que a vítima não tenha acesso aos patamares superiores, que olham, plácidos, seu jardim florescer enquanto o resto que deveria ter uma flor não consegue nem mesmo sementes.

De quem você tem raiva nesse caso? Com quam você pode brigar? Que orgulho têm aqueles que trabalham em uma corporação? São um lixo tão grande a ponto de reduzirem-se apenas a empregados de um lugar, defender a política e o tratamento dado? Só se forem pra eles! Respeito minha pica, a maldade está no simples "Não posso te ajudar, vou te transferir para o setor seguinte"

Pois que vão todas À PORRA. Que essa é a pior das maldades, a maldade sem rosto.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

146. Romance

Oh, mirror in the sky, what is love
Can the child within my heart rise above
Can I sail through the changing ocean tides
Can I handle the seasons of my life

Well, I've been afraid of changin'
Cause I've built my life around you
But time makes you bolder
Children get older
And I'm getting older too




Pensando em romance e outras coisas deprimentes.

terça-feira, 5 de abril de 2011

145. Unhas

Não vai ser tão bom assim.


Não vai, Nunca é. Vai dar tudo errado. No início, tudo dá tudo errado. No início, vai ferrar tudo, principalemente porque você vai cândida e medrosa.

Aí você se frustra, cansa e chora, e morre de saudade. Até que você pára de ver aquilo que você gostaria e a apreciar aquilo que tem.

E aí vem a felicidade.



(como pintar as unhas de verde longe dos comentários do meu pai)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

144. P.S.

P.S.:


Forte também é quem aprendeu a nadar, apesar da correnteza.

143. Água

Uma pessoa só é forte se se mantiver firme diante do sofrimento dos outros, ao tentar estender uma mão e ouvir um "você não sabe como é". Uma pessoa só é forte se ouvir isso e responder "não sei, talvez nunca saiba, mas você é um covarde" com o duro carinho de quem se importa. Com a raiva amorosa de quem gosta.

Uma pessoa só é forte se conseguir atirar o sofredor na água e deixar que aprenda a nadar sozinho, e esperar nas margens, sem se mover. Estar ali pra evitar que se o outro se afogue. Pra ver o outro aprender a beber.






Dizendo: "I'm not fucking going anywhere. Bitch."

142. Cavalo

Você pode levar o cavalo até a água, mas não pode fazê-lo beber.

Ninguém pode ajudar a quem não quer ser ajudado. Não que seja fácil estar acessível, quando parece - por vezes é - que a dor é grande demais. Talvez a pessoa sinta aquele -aquele - antegozo agudo na melancolia. Talvez goste de mostrar-se, desafiando o mundo a cavar mais fundo dentro de suas vísceras. Promiscuidade virtual, dos sentimentos esta. Sorver o fígado, esconder o coração.

Fazer o quê? Até eu gosto de lamber meu próprio sangue. Mas o gosto do dos outros é azedo, só eles podem beber. Ou deixar jorrar.

sábado, 2 de abril de 2011

141. Puta

"Sobre o seu post..."
"Hm."
"Você é uma puta."
"Eu sei."

Não é que você fosse gostar de mim de qualquer outra forma ;)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

140. Estupidez humana

O ser humano é de verdade uma criatura inteligente, social e patética. Apesar do cérebro de 2kg para um corpo de 70 e dos polegares opositores, simplesmente temos a necessidade crônica de nos relacionarmos com quem quer que seja, simplesmente pelo prazer advindo da necessidade de satisfazer esse buraco. O ser humano morre de medo - ou seria tédio? - de terminar abandonado, e por isso tantos amores, dores, fofocas, traições e corações partidos por preferir andar mal-acompanhado do que só. E nunca, nunca aprende que o dito popular tem toda razão.

Por experiência, posso dizer que é muito difícil viver sozinho, principalmente porque, muitas vezes, se você está só é porque as pessoas te detestam. O que foi meu caso por muitos e muitos anos. Pra não parecer que estou posando de vítima, digo logo: não era. Era uma princesinha insuportavelmente perfeccionista, exigente e arrogante, que se achava uma mártir do mundo porque ninguém gostava de mim. Eu já nunca fui muito sociável naturalmente, e ser nojentinha simplesmente atirava as pessoas para o ponto diametralmente oposto. Mas eu dizia tudo bem, caguei, daqui a 20 anos eu nem vou vê-los, quem liga pra eles, nem queria mesmo.

Mas quando havia festinhas e não me convidavam, quando falavam de mim pelos cantos, quando faziam graça por coisas que eu dizia, eu que sempre fui tão mais culta que a média... bem, a verdade é que minha personalidade estúpida contribuiu e muito para eu ser pária, mas não foi só isso. Todo grupo precisa de um alvo, e esse alvo era eu, por muitos anos. E por muitos anos refugiei-me na certeza de que poderia me superar se me desligasse de todos. Que poderia viver baseando-se apenas na minha família e nas minhas capacidades mentais. Sozinha, nadando com todas as forças em um mar vazio, escuro e frio.

Mas todos temos fome. E pouco a pouco, fiz alguns amigos e fui cedendo, aprendendo a me relacionar com os outros, ávida. E somente depois de tornar-me maior de idade que consegui me inserir mais ou menos com grupos. E deixar a porta aberta (não muito) para os relacionamentos crescerem, faminta de amor, mas ainda um pouco desconfiada. Hoje, posso dizer que confio um pouco mais facilmente que antes, por descobrir pessoas boas em gente a quem eu não daria chances; e isso pode um dia me destruir novamente.

Só que mais cedo ainda eu descobri um outro caminho. Rápido, fácil, não requeria carinho tampouco julgamentos, porque era absolutamente anônimo, ainda que público. Sim, amigos, é a internet.

A internet é um perigo. Você usa seus polegares opositores para digitar seus pensamentos e sentimentos ali, à mostra, um livro aberto, sob o refúgio de um nickname (geralmente muito bobo), para que não sei quantos bilhões de pessoas os vejam, avaliem, suguem e se empanturrem. Sim, se empanturrem. De felicidade ou de sofrimento - mais de sofrimento, ao saber de histórias de familiares mortos, doenças incuráveis, amores desfeitos. O prazer de ler relatos tristes não é sádico - ok, sim é, mas não é sempre mau. Nosso cérebro anormalmente grande tem uma assombrosa cabacidade de empatia, como também têm os cães, os gatos e as zebras, e acabamos adotando essas histórias terríveis como se fossem nossas. Na maioria das vezes de uma forma romantizada, claro; metade dos "sinto muito por você" é só fachada, você quer ver mesmo o desfecho.

Mas não importa: você está falando e alguém está ouvindo. Nem que seja só um link do twitter. Alguém viu, alguém leu, alguém deu RT, alguém acessou o feed, alguém comentou. É um alívio: você não está só. É melhor, muito melhor que um diário, no qual você fala consigo mesmo e a única forma de avaliar a pressão é relendo tempos depois. Você não mostra seu diário pra ninguém, que ele existe, tem seu nome e seu cheiro nele. Todos vão rir de você ao lerem. É pra ser secreto. Blogs não; blogs são para serem partilhados, para que se possa extravasar sem correr o risco do rídiculo. Que se falam mal, oras; você não os conhece, não importam. Os que importam são os que se "preocupam".

Bauman fala certo nas relações virtuais. Elas não envolvem nada, e migram para a vida real. Dentro da internet, porém, são mais ou menos seguras, ainda que vazias de significado. São para ser vazias de significado. São para tentar preencher o buraco que temos no peito, onde a solidão dorme. São como os personagens nos filmes: são lindos, mas são mentira.

Até que acontece que, no máximo da patetice, você acaba se envolvendo com alguém da internet. Um outro anônimo, que pode ser um mentiroso, que pode ser um assassino, um tarado, um imbecil, um feioso, um espião internacional, o seu vizinho, o menino que você gosta, um suicida. Um outro solitário. Estão sozinhos na solidão. Nos segredos que não podem partilhar com os amigos, e que, entalados, encontram liberdade na web. Nos detalhes. Nos risos. Nos gostos em comum. Na desenvoltura em falar sem ver o rosto, sem ouvir a voz. De pensar antes de escrever. De não precisar morder-se a língua. De extravasar sem medo do que dirão, porque não importa o que o outro pensa. Ou importa?

E uma amizade real surge na internet, como uma rosa que nasce no deserto. E é uma confusão. Com o coração aberto e sangrando, você olha para o outro tirando a máscara do rosto. Que é a única coisa que falta para desvelar tudo, para arrombar o castelo, o último fio de a te prender na frivolidade segura dos laços virtuais. Você se apega. Gosta mesmo. E, patético, percebe-se pequeno.

Eu me sinto pequena. Me sinto mais criança do que há muito tempo sentia. Como a vida é curta e parca. E como fazemos de tudo para deixá-la ainda mais miserável, invocando tempestades sobre mesquinharias, crentes de que a felicidade é real mas nunca nos alcança. Quantas coisas lindas existem nessa droga de mundo minúsculo, quantas coisas mínimas nos fazem chorar de amor apenas por olhá-las. E como uma maldita pessoa, tão insignificante em relação ao universo sem fim, pode ser um universo em si. Como, através de seus malditos textos passados, de seu maldito blog e de seus malditos emails e conversas de msn, consiga operar dentro de outra a quem nunca viu na vida, a quem nunca tocou, a quem nunca sentiu o cheiro. Como uma maldita pessoa microscópica perante de Deus pode te abençoar com coisas que realmente importam, que são invisíveis aos olhos e impronunciáveis com a boca, órgãos enganosos.

Não sou uma pessoa humilde, Ele sabe que não. A tudo tenho de entender, analisar, categorizar e rotular, ou enlouqueço. E por isso que sinceramente enlouqueço agora, por não ser capaz de entender. O Amor (com maiúscula, porque é O Amor em geral) me confunde, me estapeando no escuro qual demônio gozador. E às vezes me pego angustiada, relendo coisas e desenhando com um carinho avassalador, e na minha mente ecoando "Eu não entendo! Eu não entendo!" Não é pra sequer tentar entender, mas é mais forte do que eu. E antes que, em pânico, eu tente fugir em debandada de sentimentos confusos, o Amor vem e me paralisa como uma cascavel a um ratinho. E não fujo. É ainda mais forte que meu instinto.

Antes, eu tinha muito mais medo. Agora, não tenho tanto. Como disse, me sinto pequena. Jovem demais, tola demais, arrogante demais, tão preocupada com minhas pequenas conquistas e misérias. E vejo essa pessoa, ela também jovem, tola e com sua própria vidinha, que no fim das contas não vai acabar escrita em nenhum documento sagrado, e será esquecida mais cedo ou mais tarde. E leio aquilo que ela era antes de mim - no blog que deveria ser anônimo mas agora é um diário antigo, no pc -, antes de entrarmos na vida uma da outra, e percebo que, no fim das contas, cada indivíduo é um grãozinho de areia, um pedacinho de nada, no turbilhão que é a vida de alguém. Uma vida que, por mais desinteressante que seja em termos macro, é vastíssima quando se olha de perto. É lindíssima, é longa, e as pessoas crescem e crescem e a vemos crecser facilmente. E pode não durar pra sempre no mundo, mas vai durar dentro dos outros, enquanto durarem. Não que isso valha muito. Ou vale?

Importa então? Importa agora? É assim que é? E é assim que vai ser?

Então tá.

Um brinde à estupidez humana.