sexta-feira, 29 de maio de 2009

94. Ver

Aí ele disse: "Sua cara está escorrendo." Aí eu ri e sumiu, por um tempo.



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"Devagar, você está indo bem. (...) É tão adiante de si que se esquece do que precisa. Apesar de poder ver quando está errada, sabe que nem sempre consegue ver quando está certa."



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quarta-feira, 27 de maio de 2009

93.Tão

Um prendedor de cabelo no chão. Um encontro fortuito com o melhor amigo. Risos sobre um assunto em comum. Uma bochecha esperando um beijo. O ônibus tomou o caminho mais longo, mas uma criança conversava animadamente com uma moça, e seu pai era um bom pai. Um bom kata.

Este blog está virando um livro de momentos. Mas para um dia do qual eu não esperava absolutamente nada, valeu a pena. Vale a pena viver, se as coisas forem tão simples e tão bonitas quanto parecem.

terça-feira, 26 de maio de 2009

92. Jamais

Jamais preveja o futuro baseado em um díspare presente. Este mente com uma frequência admirável.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

91. Mal

Uma escolha errada, tomada por preguiça ou indecisão, arruína muita coisa feita de material frágil.

Passo m a l com minha própria mente. Por isso adoeci.

sábado, 23 de maio de 2009

90. Por ora

É quase vergonhoso dizer que prefiro a anestesia à cura.



Mas é, dá um barato, prefiro. Por ora.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

89. Siga

"Mude, oras. Não precisa ser drástico, só siga."

E perdendo a direção como um cachorro de raça abandonado. O oco dentro de mim reverbera tão alto que não consigo sequer me concentrar nas palavras das pessoas. Não consigo me concentrar nos meus próprios pensamentos, afogados em ondas contra o tórax, contra o abdome, contra os lobos temporais. Aí bato pra elas voltarem, mas isso é patético demais, e durmo.

Eu não quero dormir. Eu não quero chorar. É tão simples, né, e imbecilmente.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

88. Bolsa

"Entrou no elevador.
A um canto, outra mulher segurava firme debaixo do braço uma enorme bolsa de couro lilás.
- Que ousadia, uma bolsa lilás - sorriu ela.
- Acabei de dizer a um homem que o amo - respondeu a outra. - Então entrei numa loja e, de todas, escolhi essa bolsa. Eu precisava sentir nas mãos a minha audácia.
Não sorriu. Agarrou-se náufraga na bolsa."

87. Álbuns

É tipo como andar na corda bamba: tremendo, pronta pra cair de um lado ou de outro, mas andando ainda, morrendo de medo, sacudindo e chorando. Mas, como disse, andando ainda.

São dias cansativos como os álbuns de família. A cegueira só é estranha agora porque quero ver.

terça-feira, 19 de maio de 2009

86. Wish

"The flower said
'I wish I was a tree'
The tree said
'I wish I could be
a different kind of tree'
The cat wished that it was a bee
The turtle wished that it could fly
really high into the sky
Over rooftops and then dive
Deep into the sea

And in the sea there is a fish
A fish that has a secret wish
A wish to be a big cactus
With a pink flower on it
And in the sea there is a fish
And the flower
Would be its offering
Of love to the desert
And the desert
So dry and lonely
That the creatures all
Appreciate the effort

And the rattlesnake said
'I wish i had hands so
I could hug you like a man'
And then the cactus said
'Don't you understand
My skin is covered
With sharp spikes
That'll stab you
Like a thousand knives
A hug would be nice
But hug my flower
With your eyes'

And the flower said
'I wish I was a tree'
The tree said
'I wish I could be...'"



A felicidade nunca está quando se bate na própria porta.

domingo, 17 de maio de 2009

85. Pausa

Uma pausa.

Era uma vez uma ovelhinha negra. As outras ovelhinhas não gostavam dela porque todas eram branquinhas e ela era a única negra. Durante o dia, as águias e lobos sempre conseguiam vê-la e arremetiam contra ela toda hora. Ela tinha sempre muito medo. Só à noite, quando todos dormiam e não havia perigo, ela se escondia sob uma árvore e dormia sozinha, porque ninguém a via na escuridão.

Aí uma vez a noite perguntou, "O que está fazendo aí? Sabia que estava faltando uma nuvem..."

Aí a noite pegou a ovelhinha e botou na lua, e tudo ficou escuro como a noite gostava.

sábado, 16 de maio de 2009

84. Motivações

Motivos sem motivações não valem nada. Motivações, no entanto, valem tudo.

E desde quando ser senhora de si é um defeito? O defeito, sim, é ser frágil, como todo mundo acha fofo. Mas como disse meu brother, "menina bonita só minha filha. Gosto de mulher."

Não é pra gostar. E se não gostar, engula. É assim e pronto, e que essa atitude me acompanhe além das motivações.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

83. Guia

Mais uma vez percebo que sou a líder. Não por querer. Nem quando quero deixar que o mundo se exploda consigo deixar de ser o cão-guia.

Olhem. Temam minha fúria engarrafada, tão fria que queima ao toque. Confundam-se com os movimentos tranquilos das minhas mãos. E se querem que eu vá na frente, eu vou, quer vocês venham quer não.

82. Adjetivos

Poucos adjetivos são capazes de te definir. Entre eles, hipócrita, metido e asqueroso

Quero que você morra e que eu possa assistir sua tortura lenta e agonizante no inferno.

terça-feira, 12 de maio de 2009

81. Do céu

Tá escrito na minha testa, e sublinhado na minha voz. Ninguém deixou de perceber e ao mesmo tempo perco o controle cada vez que alguém quer saber se estou bem.

E cadê a chuva? É a única coisa que vai cair do céu pra mim.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

80. Fútil

E ainda assim, nem a mais fútil das alegrias. A culpa é minha, não do mundo. Mas ainda assim, nem a mais fútil das alegrias.

O único caminho está desaparecendo, e aí eu sento e choro.

79.

domingo, 10 de maio de 2009

78. Sonho

Me queria, não me queria? Acho que sonhei com isso.

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Me lembrei de uma vez em que me apaixonei em sonho. Ele era loiro, alto e gentil. Estava atrás de um balcão e meu coração perdeu o ritmo quando eu o vi.

O susto me acordou de leve, e quando voltei a dormir não era mais ele, mas um amigo. Pasma, eu o empurrava e escalava (faço isso mesmo) em busca do rapaz, perguntando em desespero onde ele fora, mas nada.

Mas na mesma noite eu o vi. No pátio da Belas-Artes, o sol se punha anunciando tempestade - tudo era amarelo e roxo, e hava uma casa onde fica na verdade o ateliê do aluno. Eu estava sentada no pátio, conversando, e ele veio e começou a falar conosco. Engasguei nas palvras, mas ele sorriu e me estendeu a mão, para conhecer sua casa. Eu corava violentamente e tremia, lembro de que tremia muito.

A casa era grandinha, cheia de degraus e um mezanino - poderia desenhá-la mesmo agora - onde ele cuidava de algumas crianças órfãs junto de uma amiga. Minha mente dizia que ele tinha 23 anos, e eu me acanhava muito ao ver alguém tão altruísta. E sentia inveja da amiga querida dele que era muito quieta, o que eu interpretei como hostilidade.

(como posso me lembrar de tantos detalhes? Como sinto o olhar dele sobre mim? Já faz mais de um ano que esse sonho me assombrou - e me lembro como se fosse ontem)

A tempestade chagava. Ele subiu numa escada de madeira, frágil, para arrumar umas telhas antes que começesse a chover, e eu e a garota ficamos segurando-a. Ela me olhou com atenção antes de abrir a boca.

- Você o ama, né?

Eu corei e tropecei na garganta.

- Então vai.

Sorri pelo encorajamento, eu a havia julgado mal. E me pus a subir a escada. Ele estava descendo, sorriu confuso e segurou a minha mão.

- O que foi?



Acordei.


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Esta noite alguém de quem gostei me queria. Timidamente, me queria. Mas creio que estivesse semi-acordada.

Não estava apaixonada.



Mas o outro me amava, não amava? Espero que seja verdade.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

77. Oculto

Pensando melhor, deixa a primeira parte do post anterior pra trás. Deixa o adolescente vir e escrever e nos tornarmo homogêneos - todo mundo quer aparecer. Este blog, mesmo, só existe porque desejo que os anônimos e uns poucos conhecidos sabiam uma parte do lado oculto. Engraçado que todo mundo agora se tocou que tem um lado oculto.

Me abraço à noite tentando afastar os pensamentos de que sim, estou sozinha, não, não estou feliz com isso e é, vou continuar fingindo que sou poderosa. É assim, você é o único que ficará sabendo. Feliz?

quarta-feira, 6 de maio de 2009

76. Rosnar

Houve um tempo em que escrever era função de uns poucos e bons. Rabiscos nos diários ou em papéis soltos - como com mocinhas e rapazes adolescentes - transformando-se em coisas públicas, lidas e ainda elogiadas era raro, limitado apenas a relatos de guerras ou historinhas ficcionais.

Agora todo mundo pode escrever e ser lido, e lendo uns aos outros se inspiram, e se copiam, e no fim ficamos todos indies e iguais e cheios de frases teoricamente bonitas, mas gastas. E perde toda a graça do que era raro, do que os escritores de verdade fazem sem notar: poesia sem querer.

Não posso descrever sem exagerar e me colocar em uma posição muito superior que a que devo quando digo que hoje o dia estava ventando aqui dentro, como um Wendigo. Meus lábios sorriem mas o pulmão está duro. Quero evitar as palavras e ainda assim vomitá-las sem paixão, colérica no sentido mais cruel da palavra. Uma por uma, e calar, deixando os olhos confirmarem que é verdade.

Rosno internamente. Minhas mãos estão frias. Quero te roubar um beijo e partir, mas nada.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

75. Claire de Lune

Gorda, gorda, gorda.

E não consigo ouvir Debussy.



Chega. Chegou a hora de crescer. Para um lado, pelo menos.

sábado, 2 de maio de 2009

74. Três contra um

E é só sobre o silêncio que falo. E só sobre o prazer inócuo de andar com três pessoas, quando andar só com uma é tão mais sincero.

E só sobre a doçura do vento e o caminho para o aeroporto, correndo, correndo.

E só.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

73. Fácil

Estou tão inchada de amor que dói. Rio baixo e reviro os olhos, gemendo por antecipação.

Sorriso largo e olhos de raposa, pois é. Normalmente não sou tão fácil assim. Mas fazer o quê, azar de quem não quis, eu tô aqui.

72. Verdade

Strangely enough, I feel I want to say something I can't name.




Eu te amo. Isso é verdade, mesmo que não seja fato.

71. Luas

"Que luas são essas
sob a tua blusa?

Quem mais te viu
poeta e musa?"


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Pois é assim, querido, assim que as coisas andam. Estou com um sono de matar mas não lavei o cabelo de manhã, então eles ainda estão cacheados, cacheados. Ainda sorrindo por ontem, ainda sonhando, talvez, ainda com os hormônios em alta.

Período fértil, te faz mais feliz e mais grudenta.

Nessa época, tudo parece que vai dar certo. E não, querido? Basta uma oportunidade.