quarta-feira, 6 de maio de 2009

76. Rosnar

Houve um tempo em que escrever era função de uns poucos e bons. Rabiscos nos diários ou em papéis soltos - como com mocinhas e rapazes adolescentes - transformando-se em coisas públicas, lidas e ainda elogiadas era raro, limitado apenas a relatos de guerras ou historinhas ficcionais.

Agora todo mundo pode escrever e ser lido, e lendo uns aos outros se inspiram, e se copiam, e no fim ficamos todos indies e iguais e cheios de frases teoricamente bonitas, mas gastas. E perde toda a graça do que era raro, do que os escritores de verdade fazem sem notar: poesia sem querer.

Não posso descrever sem exagerar e me colocar em uma posição muito superior que a que devo quando digo que hoje o dia estava ventando aqui dentro, como um Wendigo. Meus lábios sorriem mas o pulmão está duro. Quero evitar as palavras e ainda assim vomitá-las sem paixão, colérica no sentido mais cruel da palavra. Uma por uma, e calar, deixando os olhos confirmarem que é verdade.

Rosno internamente. Minhas mãos estão frias. Quero te roubar um beijo e partir, mas nada.

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