quarta-feira, 19 de setembro de 2012

237. Cinza

O frescor do post anterior já feneceu. Voltou a rotina. Voltaram as horas em ônibus quentes e quebrados, voltou o lixo, o calor inclemente, voltou a burocracia e a lentidão.

Eu também voltei. Voltei às tralhas que se empilham perigosamente no meu quarto, tão grande e surpreendente tão entulhado pelo chão, e para as que me esperam no estúdio, tão sufocantes que não aguento ficar por lá sem sentir os ânimos pelo chão. Voltei à enorme casa vazia. E voltei à mim, ao velho jeans azul e ao all star também azul furado, às camisetas negras e folgadas e ao cabelo na cara, ou preso num rabo de cavalo sem-graça, ou na cara mesmo preso com um rabo de cavalo sem-graça. Voltei a andar olhando pra baixo e com os ombros encurvados, os cantos da boca puxados pra baixo. Voltei ao cinza.

Eu pensava que ia ser diferente. Que eu ia voltar diferente, e que por isso tudo ia ficar melhor. Mas eu só voltei diferente para uma vida igual, e não consigo mais viver com minhas velhas roupas. Quando as visto, todos os dias, eu não estou ali. Estou em Toledo, correndo para a catedral. Estou no final da tarde no Passeio do Prado. Estou na cama, dormindo para sempre numa vida que eu não queria que acabasse.

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